12 de dezembro de 2012

Álvaro Arregui: fazer o bem dá dinheiro


ENTREVISTA

Álvaro Arregui: fazer o bem dá dinheiro

O gestor de um dos maiores fundos de investimento de impacto do mundo diz que as pequenas e médias empresas que resolvem os problemas do planeta são um bom negócio


Christian Miguel
Exame PME - 11/2012


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O economista mexicano Álvaro Arregui, de 45 anos, está sempre em busca de empreendedores que querem transformar o mundo. Arregui não é ativista nem filantropo. "Quero investir em empresas capazes de dar dinheiro ao resolver algum problema da humanidade", diz ele. Arregui já colocou mais de 50 milhões de dólares em negócios com esse perfil desde 2007. Naquele ano, ele e o professor Michael Chu criaram o Ignia, um fundo de impacto - como são chamados os fundos que só investem em negócios que geram impacto social positivo. Nesta entrevista a Exame PME, Arregui diz por que acredita que empresas destinadas a enfrentar os grandes dilemas da humanidade têm alto potencial de crescimento. 

EXAME PME - Como surgiu a ideia de criar um fundo de investimento em negócios sociais? 
Arregui - O Ignia nasceu da minha experiência à frente do Banco Compartamos, uma instituição financeira que empresta dinheiro a microempreendedores. Viajando pelo México, conheci centenas de microempreendedores. Muitos tinham ideias ótimas de negócios para atender às necessidades de onde moravam. Levei algumas dessas ideias a grandes investidores, como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Fundação Rockefeller, que gostaram da proposta de colocar dinheiro num fundo exclusivo para negócios com impacto social. 

Dê um exemplo de impacto positivo gerado por uma empresa do portfólio do Ignia. 
Temos o caso de uma que atua numa área problemática no México e no Brasil - a habitação. É comum no México os moradores pobres de áreas rurais e costeiras, onde a renda é mais baixa, demorarem até cinco anos para construir uma casa. Uma das empresas em que investimos, a MexVi, constrói moradias bem resistentes em três meses e permite que as pessoas as paguem em até dez anos. Só em 2012 serão mais de 1 400 construções. Quando aportamos os recursos, há dois anos, a MexVi era um projeto embrionário. Hoje fatura 10 milhões de dólares por ano e já é lucrativa. 

Qual foi o papel do fundo na trajetória da MexVi? 
Se continuasse crescendo apenas organicamente, a MeXvi demoraria muito mais para alcançar seu tamanho atual. Depois do aporte, a empresa passou por mudanças profundas. Foram definidas uma estratégia de longo prazo e metas para melhorar os índices de rentabilidade. Isso ajudou a alcançar a escala necessária para negociar melhores preços de material de construção com fornecedores. Os custos baixaram, o que, por sua vez, permitiu atender mais clientes. 

Qual é a diferença entre uma empresa social e as outras? 
Do ponto de vista da saúde do negócio, não há diferenças significativas. Toda empresa precisa crescer para ganhar escala, ter fluxo de caixa e dar lucro. Uma empresa social precisa ter tudo isso e ainda gerar impacto social positivo. 

Por que os investidores do Ignia procuram esse tipo de empresa? É só por ideologia? 
Olhe a seu redor. O mundo está repleto de problemas graves para ser resolvidos. Faltam educação, saúde, infraestrutura, comida. Onde há necessidade, há também uma demanda, um mercado em potencial. Os negócios sociais partem do princípio de que esses dramas são também boas oportunidades para que empreendedores criem modelos de negócios que ganhem dinheiro ao atacá-los. Queremos investir nessas empresas porque elas têm futuro. 

Qual é a importância do empreendedor nesse processo? 
A importância é enorme. São eles que conhecem direito as necessidades e os obstáculos de seus lugares de origem. A solução para melhorar a educação em determinada comunidade pode não funcionar em outra. Além disso, o empreendedor normalmente é apaixonado pelo negócio - e isso é fundamental. 

Como o senhor avalia as oportunidades de negócios sociais no mercado brasileiro? 
O Brasil é um mercado que nos desperta muito interesse. Estou conversando com meus sócios e com novos investidores sobre a possibilidade de compor um segundo fundo. Pensamos em investir em negócios sociais da Colômbia, do Peru e do Brasil. Poucos países da região têm um potencial empreendedor tão desenvolvido como o Brasil. 

Podemos esperar investimentos do Ignia no Brasil? 
Primeiro precisamos conhecer bem o mercado em que pretendemos atuar. Ainda não conhecemos o Brasil suficientemente para colocar dinheiro nas empresas certas. Precisaríamos ter uma estrutura local, com representantes do fundo. 

Quais são as possibilidades de isso acontecer? 
Não temos planos concretos. Por enquanto, tenho conversado com investidores que pretendem lançar fundos de impacto no Brasil para ver o que acontece


Fonte: Planeta Sustentável.
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/entrevista-alvaro-arregui-resolver-problemas-planeta-bom-negocio-724934.shtml


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